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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Clube dos Desequilibrados Assumidos

Pessoal

O texto abaixo é da minha prima Júlia. Como ela quase me matou de orgulho, quero compartilhar com todos!!


      Uma coisa em que acredito é que o ideal é o equilíbrio. Em todos os sentidos.
     Em uma pessoa, por exemplo: gente boazinha demais não merece a confiança de ninguém, gente malvada, obviamente, também não; gente que vive de cara fechada não é legal; gente que ri demais é, talvez, pior ainda. Por isso, os seus amigos reais são aqueles que falam mal e falam mal dos outros, brincando ou de verdade, sem exageros.
Pode reparar e cuidado com quem não se encaixar.

    Entretanto, o meu ideal de vida, de mundo é justamente isso, não ter parâmetros. É na ligeira falta de equilíbrio que o planeta Terra existe, é um contexto de provas e explicações.

    Sinceramente, eu gosto dos desequilíbrios. São eles que viram notícia, afinal de contas! São eles que tornam as pessoas únicas. São eles que, para o bem ou para o mal, preenchem a falta de sentido da existência. Confesse para você mesmo, qual seria a graça se tudo fosse ideal? Se você concorda comigo, seja bem-vindo ao clube dos desequilibrados assumidos. Ou você quer assumir os outros e não você mesmo? Anônimos assumidos também podem entrar. Só não pode chamar a gente de loucos.
Loucos são os outros!!!


    Agora que o clube está aberto retire-se se não quiser fazer parte do encontro.
Vou iniciar a sessão.

.
Oi. Meu nome é Julia (diga: “oi Julia”). Eu tenho quatorze anos e sou desequilibrada assumida (faça cara de amigo compreensivo).
    Eu gosto de escrever, mas não gosto do que eu escrevo. Por isso eu vou fazer jornalismo e não letras.
     Eu amo de tirar fotos, mas não gosto de posar para elas. Depois eu fico triste porque não apareço em nenhuma.
     Gosto de dormir, mas gosto de deitar cedo e acordar tarde. Eu adoro desenhos, mas não sei desenhar e não consigo reunir paciência para aprender – em parte por não querer.
     Acho discurso improvisado o máximo, mas sempre que preciso falar em público esquematizo e penso bastante (dê um bocejo discreto, mas nem tanto). Eu estou escrevendo essa apresentação, mas nunca falaria assim sobre mim. É quase como escrever sobre a Julia em primeira pessoa ao invés de escrever sobre mim. Pelo menos não estou utilizando a terceira pessoa o que poderia indicar alguns tipos de desequilíbrios mais sérios, talvez (dê duas tossidas de leve). Ah, desculpa, estou mudando de assunto, aliás, virando de ponta cabeça o objetivo. Bom, eu sou concentrada e distraída, organizada e perdida, cabeluda e baixinha. Aliás, não me importa que façam piadinhas sobre a minha altura, mas sou realmente sensível quanto ao meu cabelo.
     Fico chateada quando não me dão oi, mas sempre me esqueço de dizer tchau.
     Adoro ler poesia, mas a última que escrevi, há mais de um ano, tinha regras rígidas de composição.
     Sou quietinha até o momento que começo a falar demais (fale para a pessoa ao lado fingindo que abaixa o tom de voz: “como agora”). Eu dou indiretas, mas me ofendo ao recebê-las e ofendida eu sou uma mula teimosa que não assume o erro. Eu vivo o presente para o futuro, mas sempre chorando o passado.
     Não acredito em amor à primeira vista, mas acredito em “feitos um para o outro”.
     Eu não acredito em santos, mas tinha uma Santa Rita de Cássia na carteira. Tirei porque, embora não seja supersticiosa, eu ouvi dizer que moça solteira devota de Santa Rita não casa.
     Quero morar sozinha e quero casar e ter filhos.
      Faço tudo o que faço em nome de um único objetivo. Esse objetivo não vai se realizar porque eu faço tudo o que eu faço. Resumindo, sou uma desequilibrada assumida.

Fim da sessão.

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